Comentários sobre Zoroastro, o Profeta Proibido

Zoroastro, ou Zaratustra (Ζωροάστρης) em Grego, profeta Persa que estabeleceu as bases para sua religião, o zoroastrismo, que influenciou o cristianismo com seus dogmas e por esse motivo se fez importante para a sua formação e é totalmente ofuscado, ignorado, escondido, proibido para o conhecimento popular. Por que?

O cérebro humano evoluiu para acreditar1. A fé, a crença, são próprias ao ser humano. Embora os crentes das diversas religiões pelo mundo acreditem que sua religião justifica sua fé, na verdade é o contrário, a religião é um braço do poder que os antigos governantes usavam para legitimar seus privilégios, então a religião sempre flertou com o poder e quando o poder virou o Estado a religião se tornou uma arma. Uma ferramenta de manipulação das massas. Uma forma de, assim como os antigos governantes faziam, legitimar o poder, a sua representação. É fácil concluir então que a política de quem está no poder dita as regras para a religião. A religião, com seus eloqüentes líderes, influencia a opinião pública, manipula as massas, e as massas vão impor ao Estado a aplicação dessas regras, mesmo que elas sejam contrárias aos seus próprios interesses. O povo aceita como certo, por ter se tornado artigo de fé.

Acontece que o Império Romano passou por muitas fases, e por volta do ano 300 d.C. não foi uma época fácil para governar tanto poder. O império estava a enfrentar a sua Crise do Terceiro Século2. Os imperadores reconheciam o poder da religião. Tanto que quando Julio César foi assassinado, o povo se revoltou e para acalmar o povo o senado tornou Júlio César um deus, com direito a festa no calendário anual e a templo para adoração3. O Império Persa sempre foi o grande rival do Império Romano e havia uma quantidade enorme de cristãos que moravam na Pérsia, na verdade, o cristianismo estava se esplalhando por todo o mundo e quando ele se tornou a religião oficial do Império Romano, você realmente acreditou que foi porque Constantino se converteu?4 5 Não. Ele estava colocando em prática uma estratégia de guerra, pois com esta manobra garantiu uma grande quantidade de espiões dentro do Império Persa. Haviam muitos cristãos que ocupavam cargos importantes dentro do Império Persa, considerando que sua crença, o Zoroastrismo possuía uma visão cosmopolita da humanidade, o que fazia os governantes persas acreditarem ser Reis dos reis6, esta visão inclusiva fez com que o Império Persa implodisse, pois a lealdade dos cristãos pertencia à sua religião, que agora estava à sombra do Estado Romano.

O encobertamento do profeta Zoroastro se deve principalmente pela rivalidade entre os dois impérios e pela fragilidade histórica do cristianismo, visto que herdou muitos de seus dogmas do zoroastrismo. O dualismo, a luta entre o bem e o mal, a vinda de um messias, o juízo final, os anjos. "O zoroastrismo é a mais antiga das religiões mundiais reveladas e provavelmente teve mais influência na humanidade, direta e indiretamente, do que qualquer outra fé." (BOYCE, 1979, p. 1, tradução nossa)7. Sempre estranhei o fato de Jesus ter recebido a visita de três reis magos, sendo a "igreja" contra a prática de magia, até conhecer Zoroastro. "Segundo Heródoto (1.101), os medos, que se estabeleceram no noroeste, foram divididos em seis tribos, uma das quais compreendia os 'magoi' (mais conhecido pelo latim plural 'magi', singular 'magus', do iraniano 'magu'). Esta tribo era, ao que parece, erudita e sacerdotal, que fornecia sacerdotes não apenas para os outros medos, mas também para os persas." (BOYCE, 1979, p. 48, tradução nossa)8. Então os magos eram sacerdotes do zoroastrismo, a religião rival do Império Romano, que havia adotado o cristianismo como religião oficial. Posteriormente a igreja cresceu mais que o Império Romano sendo a única coisa que dele restou, além das edificações de pedra, e pequenos reinos surgiram pelo poder da força e foram legitimados pela religião e seu poder da fé.


Citações

1 - SHERMER, Michael. The Believing Brain: From Ghosts and Gods to Politics and Conspiracies, How We Construct Beliefs and Reinforce Then as Truths, New York, 2011, p. 10.

2 - FERRERO, Guglielmo. The Ruin of The Ancient Civilization and The Triumph of Christianity: With Some Consideration of Conditions in the Europe of Today. G. P. Putnam’s Sons, 1921, p. 79.

3 - WARRIOR, Valerie M. Roman Religion. 1nd Ed., Cambridge University Press, 2006, p. 147.

4 - ODAHL, Charles Matson. Constantine And The Christian Empire. Routledge Taylor and Francis Group, 2004, p. 248.

5 - BOYCE, Mary. Zoroastrians: Their Religious Beliefs and Practices. Routledge & Kegan Paul, 1979, p. 119.

6 - PAYNE, Richard E. A State of Mixture: Christians, Zoroastrians, and Iranian Political Culture in Late Antiquity. University of California Press, Oakland, 2015, p. 166.

7 - "Zoroastrianism is the oldest of the revealed world-religions, and it has probably had more influence on mankind, directly and indirectly, than any other single faith."

8 - "According to Herodotus (1. 101), the Medes, who settled in the north-west, were divided into six tribes, one of which comprised the 'magoi' (better known by the Latin plural 'magi', singular 'magus', from Iranian 'magu'). This tribe was, it seems, a learned, sacerdotal one, which provided priests not only for the other Medes but also for the Persians."

Referências:

BOYCE, Mary. Zoroastrians: Their Religious Beliefs and Practices. Routledge & Kegan Paul, 1979.

FERRERO, Guglielmo. The Ruin of The Ancient Civilization and The Triumph of Christianity: With Some Consideration of Conditions in the Europe of Today. G. P. Putnam’s Sons, 1921.

ODAHL, Charles Matson. Constantine And The Christian Empire. Routledge Taylor and Francis Group, 2004.

PAYNE, Richard E.. A State of Mixture: Christians, Zoroastrians, and Iranian Political Culture in Late Antiquity. University of California Press, Oakland, 2015.

SHERMER, Michael. The Believing Brain: From Ghosts and Gods to Politics and Conspiracies, How We Construct Beliefs and Reinforce Then as Truths. Henry Holt and Company, New York, 2011.

WARRIOR, Valerie M.. Roman Religion. 1nd Ed., Cambridge University Press, 2006.

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